O Futuro da Tributação Internacional no Paraguai

setembro 29, 2025

O Paraguai encontra-se em um momento de transição fundamental em seu quadro tributário internacional. O país tem sido historicamente valorizado por sua simplicidade fiscal, alíquotas reduzidas e regimes especiais que estimularam o investimento estrangeiro em setores estratégicos. No entanto, a crescente pressão do ambiente internacional — principalmente pela iniciativa BEPS 2.0 da OCDE/G-20 —, a crescente digitalização da economia e os padrões globais emergentes impõem decisões políticas que podem redefinir as vantagens competitivas do Paraguai nos próximos anos.  

Expansão e modernização da rede de tratados e convenções 

Até o momento, o Paraguai opera com um número limitado de tratados de dupla tributação (DTT). Os mais relevantes incluem Chile, China-Taiwan, Uruguai, Catar, Emirados Árabes Unidos e, como novidade, Espanha a partir de 2025. Esses tratados moldam os direitos de retenção na fonte (Withholding Taxes – WHT), a aplicação de serviços empresariais, dividendos, juros e royalties, bem como padrões de troca de informações. 

O tratado com a Espanha se destaca não apenas por aderir ao modelo da OCDE, mas também por conceder benefícios explícitos em matéria de retenções reduzidas (por exemplo, em dividendos) e por garantir que muitos serviços empresariais sejam considerados tributáveis apenas no país de residência, sem necessidade de retenção no Paraguai. Por outro lado, as negociações em curso com o Chile buscam atualizar cláusulas antiabuso, reforçar mecanismos de transparência e garantir que os tratados reflitam os padrões pós-BEPS. 

Retenções (Withholding Taxes), Digitalização e Regime para Serviços Digitais 

O regime paraguaio de retenções mantém-se relativamente competitivo em comparação com outros países da região. De um modo geral, a retenção sobre dividendos situa-se em 15%, embora ao abrigo de alguns DTTs seja reduzida para 5% ou 10%, dependendo da natureza dos investidores ou estruturas. Para juros e royalties, também se aplicam alíquotas de 15%, ajustadas em determinados casos com entidades relacionadas ou não relacionadas, quando os tratados o permitirem.  

O Paraguai também implementou medidas específicas para serviços digitais desde 2021. Nesses casos, aplica-se uma retenção efetiva de 4,5% para serviços digitais prestados por não residentes, juntamente com um IVA de 10%. Nas transações entre empresas e consumidores, o fornecedor não residente assume a responsabilidade pelo cumprimento tributário, enquanto que, nos casos entre empresas, a obrigação de retenção recai sobre a empresa local. Esse esquema posiciona o Paraguai em um alinhamento crescente com as práticas internacionais, especialmente em países latino-americanos que já permitem mecanismos semelhantes para serviços digitais. 

BEPS 2.0: Pilar Dois e os Incentivos Fiscais Especiais 

O componente possivelmente mais disruptivo da mudança tributária internacional para o Paraguai é a implementação do “Pilar Dois” do BEPS 2.0, que estabelece um imposto mínimo global de 15%. Isso tem implicações diretas para regimes paraguaios como o sistema de maquila ou as zonas francas, que atualmente oferecem cargas fiscais efetivas muito abaixo desse limite (cerca de 7-10% para algumas empresas exportadoras). 

Essas diferenças podem expor os grupos multinacionais com operações no Paraguai a impostos complementares (top-up taxes) em suas jurisdições de origem, de forma que as vantagens fiscais paraguaias sejam neutralizadas externamente. Nesse contexto, o Paraguai enfrenta o dilema de manter seus incentivos fiscais como ferramentas de atração de investimentos ou adotar um Imposto Mínimo Doméstico Qualificado (QDMTT) para se alinhar aos padrões internacionais e evitar perdas fiscais. 

Várias alternativas políticas são visíveis: pode não adotar mudanças, manter os regimes vigentes, embora com possível evasão fiscal; pode adotar medidas parciais (por exemplo, um QDMTT aplicável apenas a grandes grupos multinacionais); ou poderia adotar plenamente o imposto mínimo de 15%, embora isso corroesse a atratividade dos incentivos atuais. No entanto, o compromisso político declarado até pelo menos 2028 é não aumentar os impostos, o que atrasaria qualquer reforma substancial.  

Desafios de política e reputação internacional 

O Paraguai enfrenta um desafio de equilíbrio: como manter uma estrutura tributária competitiva o suficiente para continuar atraindo investimentos, sem comprometer a receita fiscal nem ficar para trás em termos de transparência internacional. As decisões tomadas nos próximos anos serão cruciais para definir se o Paraguai conseguirá se consolidar como uma referência regional ou se, pelo contrário, sua vantagem competitiva será enfraquecida por reformas externas ou por mudanças nas condições dos países de origem dos investidores.  

O fortalecimento da rede de tratados, as melhorias nas regras antiabuso, a clareza nos mecanismos de retenção, a adaptação dos regimes digitais e a eventual adoção do Pilar Dois constituem os eixos sobre os quais o Paraguai deve projetar sua estratégia futura, garantindo coerência entre competitividade, legalidade internacional e suficiência fiscal. 

 

Fonte: ITR

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