O Arquivo Mestre no México: Marco legal, alcance e desafios na sua implementação

agosto 22, 2025

No México, ou Arquivo Mestre ou Master File tornou-se uma peça fundamental no quadro regulamentar dos Preços de Transferência. Esta obrigação, prevista no artigo 76-A da Lei do Imposto sobre o Rendimento (LISR), foi introduzida na Reforma Fiscal de 2016 como parte da adoção da Ação 13 do Plano BEPS da OCDE. Seu objetivo é fornecer à autoridade fiscal uma visão global e estruturada do grupo multinacional ao qual pertence o contribuinte, incluindo seu modelo de negócios, estrutura corporativa, operações, intangíveis e políticas financeiras.

Longe de ser um mero requisito administrativo, o Arquivo Mestre no México representa uma ferramenta para a gestão estratégica do risco fiscal, ao mesmo tempo em que fortalece a capacidade do SAT de identificar e prevenir práticas de manipulação de lucros ou erosão da base tributável.

Marco normativo e particularidades mexicanas

Embora o conteúdo exigido para o Arquivo Mestre no México siga os padrões internacionais definidos pela OCDE, existem nuances importantes que o diferenciam. Uma delas é o idioma: ao contrário de outras jurisdições que permitem sua apresentação em inglês, no México o documento deve ser entregue em espanhol, embora certos anexos, como contratos ou estudos comparativos, possam ser mantidos em inglês.

Outra particularidade é o nível de detalhamento exigido pela SAT. Não basta uma descrição geral da estrutura do grupo; é necessária uma análise funcional mais exaustiva, explicações detalhadas sobre a geração de valor, documentação da cadeia de suprimentos, descrição precisa dos intangíveis e evidência clara da política de Preços de Transferência em nível global. Essa exigência adicional responde a uma política de fiscalização mais proativa, em que a autoridade busca contar com ferramentas para comparar as informações do Arquivo Mestre com o Arquivo Local e o Relatório País por País.

Além disso, o Arquivo Mestre no México adquire o caráter de declaração juramentada, o que implica que o contribuinte assume total responsabilidade legal pela veracidade e exatidão das informações, aumentando assim o peso de sua correta preparação.

Requisitos de apresentação e limites

A obrigação de apresentar o Arquivo Mestre recai sobre os contribuintes que cumprem determinados parâmetros de renda e pertencem a grupos multinacionais. O prazo para sua apresentação é 31 de dezembro do ano imediatamente posterior ao exercício fiscal reportado. Essa data, embora ampla, exige planejamento antecipado, uma vez que a compilação e tradução de informações de caráter global podem levar vários meses.

Quanto aos limites, a LISR e suas disposições regulamentares estabelecem critérios vinculados tanto ao volume de receitas quanto à obrigação de apresentar o Relatório País por País. Dessa forma, a medida busca se concentrar em grupos de relevância econômica significativa, evitando sobrecarregar os contribuintes de menor porte.

O não cumprimento da entrega do Arquivo Mestre ou a apresentação de um documento incompleto pode resultar em sanções econômicas relevantes e, em casos graves, em ajustes fiscais que aumentem substancialmente a carga tributária do contribuinte.

Relação com o Arquivo Local e o CbCR

A regulamentação mexicana integra o Arquivo Mestre em um esquema tripartido de documentação, juntamente com o Arquivo Local (Local File) e o Relatório País por País (CbCR).

Essa arquitetura permite que a autoridade fiscal tenha uma visão macro e micro do grupo: o Arquivo Mestre descreve a estrutura global, o Arquivo Local detalha as transações específicas da entidade no México e o CbCR oferece um panorama financeiro consolidado por jurisdição.

Nesse contexto, a coerência entre esses documentos é fundamental. Inconsistências nos números, descrições de funções ou tratamento de intangíveis podem ser interpretadas pela SAT como indícios de planejamento tributário agressivo, dando origem a auditorias mais aprofundadas ou ajustes para corrigir os desvios percebidos.

Riscos e consequências do não cumprimento

O não cumprimento da apresentação do Arquivo Mestre não implica apenas multas, que podem atingir valores significativos, mas também riscos em matéria probatória. Na ausência deste documento, o contribuinte perde a presunção de que suas operações cumprem o princípio da plena concorrência, e o ônus da prova recai inteiramente sobre sua defesa.

Além disso, se a autoridade determinar que a falta de apresentação ou a omissão de informações constitui uma prática fiscal indevida, as sanções podem incluir acréscimos, atualizações e até multas sobre os rendimentos omitidos entre 55% e 75%. A correta preparação do Arquivo Mestre, portanto, não é apenas uma obrigação formal, mas um elemento central da defesa fiscal preventiva.

Conclusão

O Arquivo Mestre no México é muito mais do que um requisito técnico: é uma ferramenta estratégica que, bem elaborada, reforça a posição fiscal do contribuinte e facilita o diálogo com a autoridade.

Para aproveitar plenamente seu potencial, as empresas devem:

  • Planejar sua preparação com antecedência suficiente, coordenando equipes locais e globais.
  • Garantir a consistência do conteúdo com o Arquivo Local e o CbCR.

Manter a documentação de apoio atualizada e traduzida, conforme exigido pela regulamentação.

Em um ambiente de crescente cooperação internacional em matéria tributária, o Arquivo Mestre se consolida como um pilar de transparência e conformidade que nenhuma empresa multinacional pode subestimar.

 

Fontes:

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