Coreia do Sul: Pontos-chave da Reforma Tributária e Preços de Transferência

agosto 18, 2025

O Ministério da Economia e Finanças (MOEF) da Coreia apresentou um pacote integral de reformas tributárias que marcará a agenda fiscal a partir de 2025. Essas medidas respondem à necessidade de reforçar a sustentabilidade das finanças públicas, estimular a inovação tecnológica e manter a competitividade em um ambiente econômico global cada vez mais exigente.

Entre as principais diretrizes, está prevista a reversão gradual dos cortes no imposto sobre as sociedades, que voltará a uma faixa de 10% a 25% a partir de 2026, juntamente com um aumento significativo dos incentivos fiscais em setores estratégicos como inteligência artificial, semicondutores e biotecnologia, com créditos que poderão chegar a 50% para atividades de P&D. Além disso, busca-se simplificar os processos tributários, incluindo isenções específicas e a modernização dos procedimentos de declaração, tudo isso em um quadro que incorpora padrões internacionais, como o imposto mínimo global.

Pilar Dois: Global Minimum Tax e a introdução do Top-up doméstico (DMTT)

Implementação antecipada do Quadro Global (GloBE)

A Coreia do Sul posicionou-se como um dos países líderes na adoção antecipada do Marco Global de Imposto Mínimo (Pilar Dois da OCDE), incorporando seus princípios na legislação nacional a partir de 1º de janeiro de 2024 por meio da Lei de Coordenação Internacional de Impostos (AITA). Esta decisão não só a coloca na vanguarda em matéria de alinhamento fiscal internacional, como também estabelece um quadro sólido para combater a erosão das bases tributáveis e a transferência artificial de lucros para jurisdições com tributação baixa ou nula.

O esquema aprovado introduz antecipadamente os dois pilares operacionais mais relevantes da iniciativa: a Income Inclusion Rule (IIR), que impõe às entidades controladoras coreanas a obrigação de cobrar um imposto complementar (“top-up tax”) quando alguma filial do grupo multinacional opera em uma jurisdição com uma alíquota efetiva inferior a 15%, e a Under-Taxed Payments Rule (UTPR), que a partir de 1º de janeiro de 2025 atua como mecanismo de apoio para garantir que os rendimentos não fiquem sem tributação se outra jurisdição não aplicar a IIR.

Essa implementação antecipada exige que os grupos multinacionais com presença na Coreia revisem minuciosamente suas estruturas fiscais internacionais, avaliem o impacto em suas alíquotas efetivas e adaptem suas estratégias de preços de transferência, financiamento e localização de ativos.

Novo Domestic Minimum top-Up Tax (DMTT / QDMTT)

Dentro do pacote tributário de 2025, a Coreia do Sul propõe a criação de um Domestic Minimum top-Up Tax (QDMTT), destinado a garantir que as entidades locais de grupos multinacionais não sejam tributadas abaixo da alíquota mínima global de 15%. Essa medida visa neutralizar a possível realocação de bases tributáveis para o exterior e garantir que a arrecadação correspondente às operações geradas em território coreano permaneça dentro do país.

O QDMTT será aplicado apenas quando a alíquota efetiva de tributação (ETR) de uma entidade localizada na Coreia for inferior ao limite de 15%. Para determinar a obrigação fiscal sob este regime, é utilizada a seguinte fórmula:

Excess Proftit= Receita líquida calculada de acordo com as regras GloBE − Exclusão baseada na substância (SBIE). QDMTT = (15% − ETR) × Lucro Excedente.

A exclusão com base na substância (SBIE) tem um papel fundamental, pois reduz a base tributável considerando elementos de valor real, como custos salariais e valor dos ativos tangíveis na Coreia. O objetivo é premiar a presença econômica genuína, diferenciando as empresas que mantêm operações substanciais daquelas que apenas transferem lucros de forma artificial.

Para a imputação do imposto complementar, as empresas podem optar por duas modalidades:

  • Atribuição legal (estatutária): distribuição proporcional do imposto entre as entidades coreanas do grupo, em função dos rendimentos que cada uma gera.
  • Atribuição designada: repartição definida internamente pelo grupo multinacional entre as suas entidades locais, desde que sejam cumpridos os critérios de coerência e rastreabilidade estabelecidos pela autoridade fiscal.

A regulamentação prevê, além disso, regras de exclusão por de minimis, aplicáveis a operações de muito baixa magnitude, bem como safe harbours transitórios. A entrada em vigor do QDMTT está prevista para os exercícios fiscais com início em 2026.

Conformidade e novos requisitos informativos

A adoção do quadro GloBE na Coreia impõe obrigações de reporte mais amplas para todas as Constituent Entities que operam no país. O objetivo é garantir a transparência e a rastreabilidade das informações fiscais relacionadas com o imposto mínimo global, permitindo à autoridade fiscal verificar o cálculo do top-up tax e a correta aplicação das regras IIR e UTPR.

Os documentos a apresentar incluem:

  • Global Minimum Tax Information Return (GloBE Return), que centraliza as informações financeiras e fiscais relevantes para o cálculo do imposto mínimo.
  • Formulário correspondente ao IIR ou UTPR (por exemplo, Formulário 56 ou 56-2), de acordo com a função da entidade dentro do grupo multinacional.
  • Documentação adicional que explique o método de atribuição utilizado entre as entidades coreanas do grupo, quando aplicável.

Para facilitar a adaptação, o governo estabeleceu um período de transição em que o prazo de apresentação será de 18 meses a partir do encerramento do exercício fiscal. A partir dos anos seguintes, esse prazo será reduzido para 15 meses, reforçando a necessidade de as empresas disporem de sistemas internos de coleta e consolidação de dados mais ágeis e precisos.

Impacto nas empresas e preços de transferência

A implementação do GloBE e do Domestic Minimum Top-Up Tax obriga os grupos multinacionais com operações na Coreia a repensar suas políticas de preços de transferência. A correta atribuição de lucros entre jurisdições será determinante para calcular a taxa efetiva (ETR) abaixo do limite de 15%, especialmente em estruturas com operações em países de baixa tributação, onde podem surgir top-up taxes, mesmo cumprindo a regulamentação local.

A Coreia também reforçou os requisitos documentais em matéria de preços de transferência para pedidos de reembolso por ajustes ao valor de mercado. Os contribuintes agora devem comprovar aumentos fiscais equivalentes na jurisdição contraparte – por exemplo, por meio de declarações retificadas ou comprovantes de pagamento adicionais – e o prazo para revisão desses pedidos foi ampliado de dois para seis meses.

Setores estratégicos como tecnologia, manufatura e serviços financeiros deverão integrar sua estratégia de preços de transferência com a gestão do imposto mínimo global e os regimes de exclusão por substância. A coordenação entre essas áreas torna-se essencial para otimizar a carga tributária e minimizar riscos de ajustes e sanções.

Conclusão

As reformas tributárias implementadas pela Coreia do Sul em 2025 reforçam seu compromisso com a transparência fiscal e a alinhamento com os padrões internacionais. Destacam-se por:

  • Adoção antecipada do Marco GloBE e do imposto mínimo global, incluindo o QDMTT.
  • Fortalecimento dos requisitos de preços de transferência, com maior exigência documental e prazos de revisão prolongados.
  • Foco na prevenção da erosão da base tributária, garantindo uma tributação mais equitativa para as multinacionais.

Em conjunta, essas medidas aumentam as obrigações de conformidade e exigem que as empresas revisem suas estruturas fiscais, ajustem seus processos internos e se preparem para um ambiente regulatório mais rigoroso e globalizado.

 

Fonte: https://www.moef.go.kr/nw/nes/detailNesDtaView.do

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