A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) anunciou a atualização dos seus Perfis de Países em matéria de Preços de Transferência, incorporando novas jurisdições e reforçando o alcance global deste instrumento de transparência fiscal. Com a terceira série publicada em outubro de 2025, o número total de países e jurisdições cobertos já chega a 83, e está prevista uma quarta série para completar as atualizações programadas em 2025.
O que são os Perfis de Países de Preços de Transferência da OCDE?
Os Perfis de Países da OCDE são fichas técnicas nacionais que resumem a legislação, as práticas administrativas e as abordagens interpretativas que cada país aplica ao regime de preços de transferência. Estas fichas reúnem informações essenciais sobre:
- Aplicação do princípio da plena concorrência (arm’s length principle).
- Métodos reconhecidos pela regulamentação local.
- Tratamento de intangíveis e serviços intragrupo.
- Requisitos de documentação (relatório local, relatório mestre, relatório país por país).
- Procedimentos de resolução de disputas e abordagens administrativas (incluindo safe harbours e APAs).
Desde sua criação em 2009, os perfis se consolidaram como uma fonte de referência para administrações tributárias, empresas multinacionais e consultores, permitindo comparar de forma padronizada o quadro regulatório de cada jurisdição.
O que trouxeram as atualizações de 2025?
Em 2025, a OCDE publicou as atualizações em vários lotes:
- Maio de 2025 (primeiro lote): incorporação e atualização dos perfis iniciais para 11 jurisdições, incluindo pela primeira vez países como o Azerbaijão e o Paquistão.
- Julho de 2025 (segunda leva): publicação de perfis atualizados para outras 12 jurisdições, entre elas Canadá, México, Espanha e Cingapura, elevando o total para 78 jurisdições.
- Outubro de 2025 (terceira fase): novo bloco de atualizações que eleva o total para 83 jurisdições; além disso, a OCDE anunciou que uma quarta fase será publicada em dezembro para completar a série. Nestas últimas atualizações, são consolidadas e ampliadas seções-chave, como o tratamento de ativos intangíveis difíceis de avaliar (HTVI) e a abordagem simplificada para atividades básicas de marketing e distribuição (relacionada com o Amount B, parte do Pilar Um do quadro BEPS 2.0).
As atualizações baseiam-se nas respostas oficiais de cada país a um questionário padronizado, que visa garantir a precisão e comparabilidade das informações fornecidas.
Por que essa lista é importante?
A relevância prática dos Perfis de Países de Preços de Transferência reside em vários aspectos essenciais:
- Transparência normativa: oferecem acesso rápido e consolidado à forma como cada jurisdição regula e aplica os preços de transferência, reduzindo a incerteza para os grupos multinacionais.
- Referência para documentação e análise: servem como guia para preparar o relatório mestre, o relatório local e demonstrar o alinhamento das políticas intragrupo com as normas locais.
- Identificação de riscos locais: permitem detectar diferenças regulatórias e prioridades de fiscalização que podem implicar riscos de ajuste ou controvérsia.
- Suporte para resolução de disputas: facilitam a avaliação de posições em procedimentos de MAP e em solicitações de APAs, mostrando práticas administrativas e precedentes locais.
- Coerência com iniciativas BEPS: ao incluir seções sobre HTVI e abordagens simplificadas relacionadas ao Amount B, os perfis ajudam a interpretar a implementação local de padrões internacionais decorrentes do projeto BEPS.
Implicações práticas para empresas e consultores
Diante da ampliação para 83 jurisdições, as empresas e seus consultores devem considerar ações concretas:
- Revisar políticas e documentação de preços de transferência para operações com entidades nas jurisdições recém-adicionadas ou atualizadas.
- Atualizar análises de comparabilidade e benchmarks quando o perfil do país revelar mudanças nos métodos preferidos ou nos parâmetros de mercado aplicados pela administração local.
- Avaliar a exposição a HTVI e Amount B e definir estratégias de documentação e negociação com as autoridades fiscais.
- Priorizar jurisdições de acordo com o risco material e a frequência das fiscalizações, utilizando os perfis como ferramenta de risk scoping.
- Integrar as conclusões do perfil do país nos planos de auditoria interna e na preparação de respostas a requisitos fiscais.
Essas medidas ajudam a mitigar os riscos de ajustes e a sustentar defesas técnicas em caso de controvérsia.
O que as administrações tributárias devem monitorar?
Para as administrações, as atualizações:
- Favorecem a harmonização de práticas e a identificação de lacunas normativas.
- Permitem melhorar a coordenação internacional para a resolução antecipada de disputas (MAP/APAs).
- Oferecem informações úteis para elaborar programas de conformidade e guias administrativos (por exemplo, tratamentos de HTVI ou a implementação de safe harbours).
O caráter padronizado dos perfis promove a comparabilidade e apoia ações coordenadas no âmbito do Inclusive Framework.
Conclusão
A atualização de 2025 dos Transfer Pricing Country Profiles reforça o compromisso global com a transparência e a comparabilidade em matéria de preços de transferência. Com 83 jurisdições cobertas, as fichas da OCDE consolidam-se como uma ferramenta essencial tanto para grupos multinacionais como para administrações tributárias, na busca de uma aplicação coerente do princípio da plena concorrência e de uma redução efetiva das controvérsias internacionais.
Para as empresas, a sua consulta periódica permite adaptar políticas, reforçar a defesa documental e antecipar riscos decorrentes de divergências normativas. Nesse contexto, os consultores especializados desempenham um papel fundamental ao traduzir esses padrões em práticas alinhadas com a realidade de cada mercado.
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Fontes:
